Moda e preconceito: pelo fim da gordofobia
- Lagartas Bruna e Gabriel
- 30 de set. de 2016
- 3 min de leitura
Todo mundo sabe que o padrão corpóreo imposto pela mídia gera inúmeros problemas psicológicos àqueles que não se enquadram em tal perfil. No mundo da moda, principalmente, o manequim 36 é endeusado e, consequentemente, foco de desejo entre inúmeras mulheres. Devido a esse fato, as que não conseguem ou não querem se encaixar acabam sofrendo algum tipo de preconceito. É o caso das “gordinhas” que são alvo de ataques preconceituosos, que geram a gordofobia.
Não é necessário muito esforço para entender esta palavra. O próprio nome já diz tudo. A gordofobia é uma forma de opressão a pessoas com mais tecido adiposo no corpo, é a desqualificação e inferiorização dessas pessoas, baseado em critério único de que esta maior quantidade de gordura no corpo incapacita, invalida, enfeia e emburrece as pessoas. É a negação da existência da pluralidade do ser humano.
Todo mundo sabe também que há um segmento de moda específico para mulheres acima do peso: o plus size. A representatividade deste no Brasil, entretanto, não é suficiente para promover uma moda inclusiva. Se compararmos com os Estados Unidos, por exemplo, não só temos marcas exclusivas, como marcas famosas (Forever 21) que criam em suas coleções linhas para esta categoria, aumentando assim a representatividade.

A representação do plus size no Brasil, além de ser em menor número, se caracteriza por um preconceito velado, estipulando padrões até mesmo dentro do próprio segmento. Recentemente, uma matéria em um site renomado listava os padrões necessários para uma mulher ser considerada modelo plus size. O que mais choca é o tom positivo em que a matéria foi escrita, podendo ser considerada um ataque gordofóbico maquiado.

A partir de uma pesquisa de observação em determinadas lojas no Rio de Janeiro, percebemos que a grande maioria não só limita seus tamanhos como disponibilizam tamanhos maiores equivalendo a tamanhos menores (um 44 equivale a um 42, por exemplo), restringindo seu público e excluindo pessoas consideradas fora do padrão da marca.
(Pesquisa ao lado: Você já se sentiu discriminado em alguma loja de roupa?)
Uma importante marca carioca, por exemplo, foi responsável por um ataque gordofóbico que acabou caindo na rede. “As vendedoras me olharam com deboche e me hostilizaram com risinhos, não se preocupando nem em me atender” diz Walquíria, 26 anos. “A marca se tem um posicionamento de gratidão e good vibes, mas contrata vendedoras com este tipo de comportamento?” questiona Walquíria.
Trata-se de uma opressão que destrói até mesmo mulheres que passaram ou passam por um processo de construção de autoestima, aprendendo a apreciar seu corpo como ele é.

A modelo plus size, Bruna Rego, assina embaixo de tudo que foi falado. “Eu acabava comprando qualquer coisa ou não comprando e isso desestimulava minha auto estima.” Ela diz que o plus size, que vem crescendo nos últimos dois anos, foi uma solução. “Tem como me vestir bem, mesmo sendo gordinha (...), é muito importante a modelagem, não é qualquer modelagem que veste bem.” Ela afirma ainda que os padrões dentro do próprio plus size existem e que sofre preconceito até mesmo de outras pessoas acima do peso.
A internet, nos dias atuais, é ainda um meio para que ataques gordofóbicos sejam praticados. Diversas celebridades, como a cantora Preta Gil, que levanta a bandeira do amor próprio, sofrem de comentários gordofóbicos em suas redes sociais. Preta, que recebeu inúmeros comentários negativos em uma foto devido a escolha de uma roupa para o seu show, diz que as pessoas possuem valores deturpados e que deveriam transmitir amor, e não propagar o ódio.

É fácil perceber que sim, a gordofobia existe, principalmente no mundo da moda, que vangloria a silhueta magra de modelos e artistas da mídia. Embora a representatividade esteja aumentando, ainda não é o suficiente. Até quando essas mulheres continuarão sendo desestimuladas e oprimidas pela mídia e por ataques gordofóbicos? Aceitar a si próprio e ao outro é essencial para que possamos dar fim a este tipo de problema, criando uma geração que seja cada vez mais livre das amarras do preconceito.
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